Cirurgião ortopédico especializado na patologia da anca
do adulto jovem, artroscopia e cirurgia conservadora da anca, artroplastia primária e cirurgia de revisão de artroplastia da anca.

Esta página tem como objectivo prestar informações sobre a patologia da anca a doentes, familiares, médicos e outros profissionais de saúde.

Patologia

A experiência clínica associada à patologia da anca leva a concluir que esta atinge cada vez mais adultos jovens (tanto homens como mulheres). Apesar das manifestações iniciais, e muitas vezes após terem efectuado várias consultas e exames, a sintomatologia agrava-se ao longo dos anos.

As várias Patologias

Conflito femoro-acetabular

O conflito femoro acetabular (CFA) é uma situação clínica em que existe uma alteração da forma dos ossos da anca (acetábulo e / ou fémur). Esta alteração da forma origina um impacto anormal entre o fémur e o acetábulo com os movimentos da anca, sobretudo em flexão e em rotação interna. Esse impacto repetido pode originar lesões a nível da anca, tornando-a sintomática nas actividades diárias, como o calçar as meias ou entrar e sair do carro.

Anatomia

A anca é constituída por 2 ossos:

  • O acetábulo que tem uma forma de concha e faz parte da bacia.
  •  A extremidade superior do fémur que tem a forma de uma bola.

O acetábulo e a cabeça do fémur são revestidos por cartilagem articular que forma uma superfície lisa de baixa fricção que facilita o deslizamento e movimento entre os dois ossos. No interior da articulação existe líquido sinovial faz a lubrificação da articulação.
O acetábulo é rodeado pelo labrum. Este é uma fibrocartilagem resistente que veda a  articulação e aumenta a sua estabilidade.

Descrição

No CFA podem desenvolver-se osteofitos junto da cabeça do fémur ou a nível do acetábulo agravando o impacto entre o fémur e o acetábulo com os movimentos da anca. Ao longo do tempo, isso pode resultar na ruptura do labrum e na degradação da cartilagem articular, podendo originar uma artrose da anca.

Existem três tipos de CFA: tipo pinça, tipo CAM e tipo misto.


Pinça:
Este tipo de conflito ocorre quando existe uma excessiva cobertura óssea a nível do acetábulo. O labrum pode ser comprimido entre o rebordo proeminente do acetábulo e o colo do fémur.

CAM: Neste tipo de conflito a cabeça femoral apresenta uma pequena bossa, na transição da cabeça para o colo femural, e não é perfeitamente esférica. O impacto repetido entre esta bossa e o acetábulo origina o destacamento da cartilagem no interior do acetábulo.

Misto: O mecanismo de conflito tipo CAM e pinça estão presentes na mesma anca.

Evolução do CFA

Não se sabe qual a incidência do CFA na população. Muitas pessoas podem apresentar um CFA e ter uma vida activa sem nunca desenvolverem sintomas.
Contudo o aparecimento de sintomas geralmente indica que existe lesão da cartilagem ou do labrum tornando susceptível uma progressão da doença. Os sintomas mais frequentes são a dor, a rigidez da articulação, a articulação falhar e o coxear.

Causas

O CFA surge devido a alterações no desenvolvimento da anca durante a infância. A deformidade tipo pinça ou CAM pode levar há lesão da articulação e há ocorrência de dor.
Os indivíduos mais activos, com actividade desportiva intensa e que apresentem uma morfologia da anca menos favorável (mais propicia ao conflito) podem desenvolver sintomas precocemente.

Sintomas

As pessoas com CFA geralmente apresentam dor na virilha, embora por vezes, a dor possa localizar-se na face externa da anca. Pode existir dor, moinha ou guinadas com o andar, entrar e sair do carro, rodar a articulação e na posição de cócoras. Pode existir dificuldade em cruzar a perna, cortar as unhas dos pés ou vestir as meias.
Quando surgem os primeiros sintomas, é importante tentar identificar as actividades ou movimentos que desencadeiam a dor.
Numa fase inicial a diminuição da actividade física pode fazer regredir alguns  dos sintomas.
Se estes sintomas persistirem, é necessário consultar um médico para determinar a causa exacta da sua dor e ponderar opções de tratamento.

Teste de conflito

Como parte do exame físico, o seu médico realizará um teste de conflito.
Este consiste no movimento de flexão da anca (trazer o seu joelho para cima em direcção ao seu peito), adução e rotação interna ( rotação para dentro em direcção ao seu ombro oposto).
O teste de conflito é positivo se  reproduzir a dor.

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Exames de imagem
Raios-X

Permitem avaliar a morfologia da anca, nomeadamente a forma do colo do fémur e do acetábulo, bem como, verificar se existem sinais de artrose ou de outras patologias da anca. Ver imagiologia

Ressonância magnética nuclear (RMN)

A RMN permite avaliar com detalhe a articulação e em particular os tecidos moles (labrum, cartilagem, músculos). A RMN com injecção de contraste no interior da articulação (Artro-RMN) aumenta o detalhe da imagem, permitindo avaliar as lesões do labrum e da cartilagem articular. É ainda possível injectar um anestésico local juntamente com o contrate no interior da articulação para avaliar a localização da origem das queixas. Se se verificar um alívio temporário da dor, podemos deduzir que se trata de uma patologia  intra-articular (como o CFA).

Tratamento
O tratamento não cirúrgico

  • Alteração das actividades
  • Numa fase inicial pode ser recomendada uma alteração da sua rotina diária, nomeadamente evitando as actividades que desencadeiam os sintomas.
  • Anti-inflamatórios não esteróides
  • Nas situações em que não existam contra-indicações os anti-inflamatórios não esteróides podem ajudar a reduzir a dor e a inflamação.

O tratamento cirúrgico
Artroscopia da anca

Se os exames complementares de diagnóstico mostrarem lesões articulares causados pela CFA e a dor não melhorar com o tratamento não cirúrgico, poderá ser recomendada a cirurgia.

As lesões articulares provocadas pelo CFA podem ser tratadas com cirurgia artroscópica. Os procedimentos artroscópicos são realizados com pequenas incisões (± 1 cm), utilizando uma pequena câmara e instrumentos finos para vizualizar e tratar as lesões no interior da articulação.

Na artroscopia  é possível  reparar ou limpar as lesões do labrum e algumas lesões da cartilagem articular. O CFA que provocou estas lesões pode ser corrigido com a regularização do excesso de rebordo óssea do acetábulo e/ou remoção da bossa na transição da cabeça para o colo femural.

Em alguns casos pode haver necessidade de realizar uma cirurgia convencional com uma incisão maior.

Lesão do labrum

O labrum acetabular apresenta uma inervação importante pelo que a sua lesão é, frquentemente, uma fonte de dor. Podem existir outros sintomas associados à lesão como ressalto ou clique na parte anterior da anca, mas também bloqueio e sensação da "anca presa". As lesões do labrum podem surgir após um traumatismo, embora estejam mais frequentemente associadas a um conflito femoro acetabular ou a uma displasia da anca. Habitualmente a lesão labral está associada a lesões da cartilagem articular.


O avanço nas técnicas de imagem por ressonância magnética permitiram o diagnóstico das lesões do labrum acetabular.

Como o labrum apresenta uma vascularização precária, o seu potencial de cicatrização espontânea, após lesão, é pequeno.

O tratamento cirúrgico das roturas do labrum passa pela reinserção do labrum no rebordo acetabular ou pela sutura da rotura. Nos casos em que tal não é possível é realizada a remoção do fragmento de labrum danificado (à semelhança das roturas do menisco no joelho). A grande maioria destas lesões pode ser tratada por artroscopia.

Coxartrose | Artrose da anca

Na artrose da anca existe um desgaste da cartilagem articular originando dor marcada, limitação da mobilidade articular e diminuição da capacidade de marcha.

Existem alguns factores de risco para a coxartrose com sejam a existência de um história familiar da doença, a obesidade, lesões da cartilagem articular ou alterações da morfologia da anca, como sejam a displasia e o conflito femoro-acetabular.

A coxartrose é uma patologia muito incapacitante, provocando dor na virilha, na coxa, na nadega ou na face lateral da anca. Pode existir dificuldade em calçar as meias e sapatos e a cortar as unhas dos pés.

 

 

A necessidade de tratamento cirúrgico é determinada pela intensidade da dor e pelo grau em que os sintomas interferem nas actividades diárias e na qualidade de vida do paciente.

A artroplastia total da anca é um procedimento eficaz e seguro para o tratamento desta patologia embora com uma duração limitada no tempo.

Necrose avascular da cabeça do fémur

Na necrose avascular existe um compromisso da vascularização da cabeça do fémur. A necrose óssea pode levar ao colapso da cabeça femural com perda da sua esfericidade. Numa fase precoce as lesões decorrentes da necrose óssea podem não ser identificáveis na radiografia. Nestas situações poderá ser necessário realizar uma ressonância magnética da anca.

Necrose avascular pré colapso à direita Necrose avascular pós colapso à direita


Nesta fase inicial da doença, é possível realizar perfurações da cabeça e colo do fémur para estimular a regeneração óssea. Pode ser associada uma artroscopia para avaliar as alterações no interior da articulação e para guiar a orientação das perfurações.

Descompressão com perfurações da cabeça do fémur Descompressão com perfurações da cabeça
do fémur e controle de artoscopia


Infelizmente, na grande maioria dos doentes, o diagnóstico da necrose avascular é feito numa fase avançada da doença, limitando as nossas opções terapêuticas e a possibilidade de conservação da cabeça femoral.


Necrose da cabeça do fémur com colapso

 

Fractura do colo do fémur

É uma patologia muito frequente, afectando sobretudo os idosos. Nestes doentes é de salientar a elevada incidência de patologia associada. Em faixas etárias mais novas, este tipo de fractura é provocado por traumatismos de elevada energia.

No tratamento cirúrgico é possível optar por vários métodos de osteossíntese (parafusos compressivos, parafusos canulados, parafuso dinâmico com placa, cavilhas cefalo-medulares) ou pela substituição protésica (hemiartroplastia cefálica e artroplastia total da anca).

Síndrome doloroso do grande trocânter

Trata-se um síndrome doloroso a nível do espaço peritrocantérico (entre o grande trocânter e a banda ílio-tibial). É muitas vezes referido como bursite trocantérica ou trocanterite, apesar da sua causa não ser a inflamação da bursa trocantérica.

Grande Trocanter

É mais frequente em atletas (corrida) e em doente mais idosos. A dor localiza-se na face externa da anca. Pode ter origem nos tendões ou músculos vizinhos (médio e pequeno glúteo, banda ílio-tibial) ou ter origem intra articular (anca) ou na coluna lombar.

O tratamento consiste na alteração da actividade física (nos casos em que está associado a uma actividade repetitiva e excessiva), anti- inflamatórios não esteróides, gelo local e exercícios para melhorar a condição dos músculos e tendões. Por vezes, é complementado com fisioterapia ou com uma injecção local de anestésico local e corticosteróide. Em casos seleccionados e que não melhoram com o tratamento conservador, poderá haver indicação para a libertação cirúrgica da banda ílio-tibial.

Escala para avaliação dos sintomas (Non Arthritic Hip Score)